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Estudos Budistas

Tradição do Ven. Thich Nhat Hanh

As Três Grandes Qualidades

Nos últimos dias, tenho pensado nas três qualidades das quais falamos muito no Zen Budismo. Três qualidades que compõem uma prática rica, profunda e autêntica.

A primeira qualidade é uma qualidade que chamamos de Grande Confiança ou Grande Fé. Isso significa finalmente reconhecer para si mesmo que você tem a capacidade de despertar, que você pode fazer isso, que você tem a semente da natureza búdica dentro de você.

Ao mesmo tempo, esta Grande Confiança, Grande Fé, reconhece que todas as outras pessoas, todos os outros seres vivos, também têm esta capacidade. Isso não é algo superficial, algo idealista. Na verdade, essa percepção o abala profundamente. Estamos tão convencidos de nossa própria inadequação, e encontramos maneiras de ter isso confirmado para nós constantemente.

Com este portal, este portal da prática, o portal da Grande Confiança, reconhecemos a nós mesmos nossa bondade inata e nossa capacidade inata, e também todos os caminhos que fechamos para isso. Entendemos que a prática da meditação é descobrir o que sempre existiu.

A segunda entrada da prática autêntica, profunda ou rica é chamada de Grande Dúvida. Observe que esta é uma grande dúvida, não uma dúvida pequena ou cínica. Uma maneira de abordar essa qualidade de Grande Dúvida na prática é entender que é a capacidade de não se acomodar de todo o coração. Não se fixar em nenhum lugar, pensando que isso é o máximo, mas estar disposto a deixar ir uma e outra vez. Mesmo dos insights que pensamos serem grandes ou profundos ou o insight final. Estar disposto a abrir mão de novo e de novo, para que o novo crescimento possa brotar.

No mundo Zen, particularmente no Zen japonês, um dos primeiros koans oferecidos aos alunos é baseado na história de quando um aluno procurou o Mestre Chao-Chou e perguntou-lhe: "Um cachorro tem uma natureza búdica?" Mestre Chao-Chou olhou para o aluno e disse: "Não". Gosto de imaginar a expressão no rosto desse aluno, pois é um ensinamento fundamental e básico do budismo que todo ser vivo possui essa semente inata de bondade.

Mas aqui, Mestre Chao-Chou cortou a fundação sob o aluno. Talvez uma razão seja que, como Thay compartilhou conosco tantas vezes, muitas vezes nossa ideia de algo pode nos impedir de tocar sua realidade.

No Livro dos Oito, o Atthakavagga, fomos lembrados de que todas as visões, cada visão única, é uma visão errada. E qualquer visão que tenhamos será, na melhor das hipóteses, apenas parcial. Aqui neste koan, o aluno veio ao Mestre Chao-Chou e basicamente pediu-lhe para confirmar seu ponto de vista conceitual.

Mestre Chao-Chou foi um professor incrível. Assim, como qualquer bom professor faria, ele desafiou o aluno a um crescimento mais profundo em vez de permitir que ele permanecesse estagnado. Eu acho que isso é uma coisa importante para nós considerarmos. Queremos ter um professor ou um ensinamento que apenas confirme tudo o que pensamos saber? Se sim, como esperamos crescer?

Nossa ideia de algo pode nos impedir de tocar a realidade. Se você gerou a capacidade de Grande Confiança, então, naturalmente, essa sensação de "Tenho certeza?" e "Se tiver certeza, verificarei novamente" surgirá. Se não, não há crescimento.

A terceira entrada, ou portal, ou aspecto de uma prática rica é chamada de Grande Prática ou, às vezes, Grande Determinação. Às vezes, os dois andam juntos. Esta é a capacidade de simplesmente continuar.

Nesta qualidade, neste portal, neste sentido da prática, muitas vezes penso na velha máxima: "Não sei qual é o meu caminho, mas o estou percorrendo." Ou às vezes a imagem que é dada no texto de uma pessoa que quer de vez em quando subir até o topo da montanha e passa um pano de seda levemente sobre uma pedra no topo da montanha, sabendo que eventualmente isso vai desgastar a montanha.

Esta é a porta de entrada de "Não há razão para que eu não possa fazer o que os outros fizeram. Vou continuar."

(Palestra de Dharma de Br.  Phap Hai em 13 de junho de 2020 – transcrito do vídeo do YouTube

https://youtu.be/q7-rvbg5Llo)

Traduzido por Leonardo Dobbin)

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