Sangha Virtual

 Estudos Budistas

Tradição do Ven. Thich Nhat Hanh

 

Bodhicitta

 

Quando somos capazes de construir nossa Sangha, para achar nosso verdadeiro lar e nosso nome verdadeiro, e também despertar a sabedoria da não-discriminação, a energia da bodhicitta se torna viva dentro de nós. Bodhicitta é a palavra sânscrita que significa mente do amor, a mente do despertar. Bodhi é despertar e Citta é mente. Bodhicitta é o desejo profundo de viver nossa vida de maneira bonita e ser uma luz para os outros de maneira que também vivam de forma bonita. Estamos conscientes de todos os nossos ancestrais praticando conosco.

 

Sabemos que estamos conectados a todas as coisas vivas. Com esta consciência nosso sofrimento não nos devasta. Pelo contrário, nos dá mais compaixão pelos outros. A cada vez que ficamos atentos, somos um Buda. Na verdade, todos podem ser um Buda...pelo menos por alguns minutos! Quando estamos refrescados, quando estamos amáveis, quando não estamos com raiva, quando podemos sorrir, somos muito parecidos com um Buda. Nesse exato momento, a maioria de nós é um Buda em tempo parcial, mas é possível aprender como se tornar um Buda em tempo integral.

 

Significa que podemos ser felizes o dia todo, porque os elementos de frescor, calma e amor nos fazem felizes. Praticar meditação é trazer mais frescor, calma, alegria e amor para dentro de nós. No passado, houve um tempo em que éramos assim, muito perto de sermos um Buda. Podemos sempre ser um Buda – sólidos, sorridentes, sem raiva, sem ciúmes. A primeira coisa que o Buda disse quando obteve a iluminação, “Que estranho! Todos têm a natureza de Buda em si, mas não sabem.” Reconhecer o fato que todos têm a natureza de Buda nos faz sentir muito melhor e nos dá esperanças para o futuro. A prática real, a verdadeira prática é permitir que cada momento da nossa vida diária seja um momento cheio de alegria. Isto é possível graças à nossa natureza de Buda, o poder da atenção e da concentração gerado por cada um de nós e também gerado pela nossa Sangha.

 

O objetivo do Zen é olhar profundamente de forma a perceber nossa verdadeira natureza de não-nascimento e não-morte, não-vir e não-ir, não-existir e não-inexistir, não sermos o mesmo  e não sermos o outro. Quando somos capazes de remover todas essas noções, tocamos nossa verdadeira natureza, e tocamos o não-medo. Não-medo é a base para a paz. É a base para a verdadeira felicidade.

 

Nirvana é a remoção de todas as noções, o silenciar de todas as noções, incluindo a noção de nascimento e morte, ir e vir. Não temos que perseguir ou procurar pelo nirvana, porque desde o início fomos nirvanizados. Nirvana somos nós. Se você está procurando por Deus, não deveria pensar que Deus está fora de você. Deus não é o Outro. A natureza de Deus não é de ser o mesmo e nem o outro. Nirvana é a nossa verdadeira natureza. É por isso que no budismo falamos em não obtenção. Não há nada a obter. Você é. O que você esteve procurando está aí. Você é o que você esteve procurando.

 

Não obtenção é ausência de objetivos. O termo sânscrito é apranihita. Significa não colocar algo na sua frente e correr atrás disso. Não há objetivos. O que estamos procurando já está presente. Você é maravilhoso como é. Não precisa se tornar outra pessoa. Seja o que for que está procurando – o Reino de Deus, felicidade, nirvana, iluminação – já está aí no momento presente. Não precisamos lutar por isso. Não há um caminho para a felicidade, a felicidade é o caminho. Não há um caminho para a iluminação, a iluminação é o caminho. Quando você inspira, quando sabe que está vivo, isto é iluminação. Você sorri para a vida, você celebra a vida; isto já é iluminação.

 

Um passo, uma inspiração podem te trazer consciência, plena atenção – isto já é iluminação. Iluminação traz felicidade e nos faz soltar. Cada momento de sua vida diária deveria ser um momento de iluminação, de plena atenção. Não há um caminho para a paz, a paz é o caminho. Este é o espírito da ausência de objetivos. Uma pessoa iluminada é alguém com nenhum lugar para ir e nada a fazer. Tudo está ótimo. Desfrutamos de cada momento da nossa vida diária. Não estamos lutando por nada, incluindo poder, fama, riqueza ou sexo. Estamos completamente soltos. Cada momento de nossa vida diária deveria ser um ato de soltar, um ato de liberação. Se ainda estamos perseguindo algo, não somos uma pessoa feliz. Ainda está faltando algo para nós.

 

Precisamos observar, precisamos aprender de maneira a entender completamente o ensinamento da ausência de objetivos. Se praticarmos a ausência de objetivos, seremos capazes de andarmos como um Buda, de sentarmos como um Buda, de sorrirmos como um Buda, de reagirmos como um Buda, de amarmos como um Buda, e de morrermos pacificamente como um Buda. O Buda sabe que morte e nascimento são apenas noções.

 

Os ensinamentos da ausência de objetivos, de nirvana são muito característicos do Buda. É encontrado em todas as tradições budistas. É muito profundo. Quando praticamos o Começar de Novo, o Tocando a Terra, o Relaxamento Total, ou a escuta compassiva, podemos ter alívio. Mas o grande alívio que podemos obter é por tocar a natureza de não-nascimento e não-morte. Se você tocar isto, tocará a Deus. Você toca o Nirvana, e está solto. Não precisa perseguir mais nada. Está livre desta perseguição. Esta é a nata dos ensinamentos do Buda. Pode ser aplicado na nossa vida diária para nossa liberação, para ficarmos soltos, para nossa transformação e cura.

 

Quando decidirmos viver nossa vida com bodhicitta, entraremos em um rio de entendimento e compaixão. O rio não tem início e nem fim. Ele contém nossa sangha, nossos ancestrais e as futuras gerações. Eu convido a todos nós, juntos, como um só, a relaxar e nos permitir sermos carregados por este rio para que ele nos leve aonde queremos ir.

 

(Do livro “Together we are one”– Thich Nhat Hanh)

(Traduzido por Leonardo Dobbin)

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