Sangha
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Estudos Budistas
Tradição
do Ven. Thich Nhat Hanh
O Caminho do Bem Estar (parte 2)
Querida Sangha, hoje, por favor, me permita falar um pouco sobre as Quatro Nobres Verdades. Primeiramente, eu devo escrever as Quatro Nobres Verdades no quadro. Há um modo de expressá-las onde para cada Nobre Verdade adicionamos uma palavra:
1. Sofrimento
2. O caminho para o sofrimento
3. O fim do caminho do sofrimento
4. O caminho para o fim do caminho do sofrimento
(...)
Para sua prática, eu sugeriria que você tomasse um pedaço de papel e o dobrasse em três para formar três colunas. Embora haja Quatro Nobres Verdades, não precisamos de ter uma coluna para a terceira porque como Thay nos tem ensinado, (...) não há um caminho para o bem-estar, o bem-estar é o caminho.
(...)Na primeira coluna escreva tudo que na sua vida pessoal é sentida como sendo sofrimento. Pode ser fisiológico, psicológico ou físico. Portanto escreva, talvez, “desespero” – esta é a emoção na qual você submerge às vezes. Ou escreva “depressão”.
(...)A segunda coluna é “o caminho que leva à primeira coluna.” (...) O Buda disse que se você puder ver a origem da comida que está alimentando sua emoção, você pode parar de ingerir esta comida particular, seja ela comida física ou impressão sensorial, então você já está liberado, você já se transformou.
(...)O terceiro exercício é o caminho para o bem estar, ou o caminho para o fim do caminho que leva ao sofrimento. Não vamos apenas cortar o sofrimento fora, bani-lo, mas vamos descobrir suas causas. E vamos remover as causas, porque não queremos tratar os sintomas, queremos tratar as raízes do nosso sofrimento. Portanto é por isso que às vezes dizemos: “o caminho para o fim do caminho que leva ao sofrimento” – o caminho do bem-estar. O Buda ensinou o caminho para o bem estar como sendo o Nobre Caminho Óctuplo.
Quando você faz a terceira parte do exercício pode usar estes ensinamentos do Buda para te ajudar. Você adapta cada um dos oito aspectos do Nobre Caminho Óctuplo para sua doença, seu próprio sofrimento.(*)
Fala Correta
As linhas mestras para Fala Correta são dadas no Quarto Treinamento de Plena Atenção: aprender como ouvir profundamente e falar de forma amorosa. Se pergunte, é esta a chave para meu bem estar, em minhas relações com minha família? Quando estou com raiva, sei como praticar o Tratado de Paz, me acalmar antes de dizer qualquer coisa? E também, conheço o modo habilidoso de expressar minha raiva de forma que eu não a reprima? Porque reprimir a raiva é também muito perigoso.
Portanto se na análise da Primeira Nobre Verdade você escreveu que um dos seus sofrimentos é a raiva, então quando você chegar na Terceira Nobre Verdade pode querer olhar para a Fala Correta como uma das maneiras de sair da raiva e não regar estas sementes em você mesmo e nos outros. Quando você está com raiva, não pode vazar essa raiva sobre outra pessoa, mas pode tomar conta dela através da sua respiração atenta, ou da sua caminhada consciente. Você pode dar uma caminhada e aceitá-la simplesmente como é. Você pode abraçá-la. E então, de alguma forma falar sobre isso. Ao invés de falar talvez seja melhor escrever. Escreva para seu amado o que aconteceu. Releia a carta para ter certeza que está fácil de seu amado aceitar, para ter certeza que você falou na sua maior parte sobre você mesmo, como se sente, sem acusar, sem julgar. Coloque-se na pele da outra pessoa enquanto lê a carta. Se estiver certo que a outra pessoa aceitaria, envie para ela. Se não estiver certo, pergunte a um amigo que conheça ambos e dê a sua opinião.
Se puder, vá diretamente a seu amado e diga: “Esta manhã eu estava realmente chateado. Eu pratiquei bastante, andando e respirando e sei que não posso transformar meu aborrecimento sozinho. Gostaria de poder, mas preciso de sua ajuda. Portanto ajude-me. Vamos encontrar um tempo quando pudermos sentar juntos e você possa me dizer tudo o que estava acontecendo quando você me disse aquilo, ou quando você fez aquilo. Isto me ajudará muito a não cometer o mesmo erro novamente.”
Portanto está é a prática da Fala Correta de forma a nos ajudar a sair do sofrimento.
Ação Correta
Há três ações como sabemos: ações do corpo, da fala e da mente. Pensamento Correto e Visão Correta já cobrem as ações da mente. Fala Correta cobre as ações da fala. Portanto Ação Correta cobre as ações do corpo. Ações corretas do corpo estão cobertas no Primeiro, Segundo, Terceiro e Quinto Treinamentos de Plena Atenção.
Podemos olhar a Ação Correta em termos do nosso consumo. Que tipo de alimentos físicos consumimos? Consumimos na hora correta? Comemos na hora correta? Comemos do modo correto, isto é, em uma atmosfera pacífica, e não correndo? O que comemos? Se comermos a carne de um frango que foi criado numa gaiola, podemos imaginar o sofrimento desse frango. Sabemos que corpo e mente não são duas coisas separadas. Toda a frustração e desespero que o frango deve ter sofrido por ter sido criado numa gaiola foi para a sua carne, que então comemos. Se bebermos o leite de uma vaca que veio de uma fazenda-fábrica, todo o sofrimento, desespero e raiva da vaca foi para o leite. Isto também é algo que ingerimos.
Portanto olhamos para o que comemos, como comemos e quando comemos. Isto pode já nos ajudar no caminho do bem estar de nosso corpo e mente. Uma refeição existe para nos nutrir, não apenas fisicamente. Damos a nós mesmos uma chance de ter alimento espiritual enquanto comemos.
Então os outros pontos da ação correta do corpo estão cobertos pelo Primeiro Treinamento de Plena Atenção: não ferir, proteger a vida. O Segundo Treinamento cobre não tomar o que não é nosso, o que não precisamos. Não consumir além das nossas necessidades, não ferir o ambiente que é uma forma de roubo. O Terceiro Treinamentos é a conduta correta nas relações sexuais. Isto também leva a nossa felicidade e à felicidade de nossa família.
Modo de Vida Correto
Minha profissão me traz felicidade? Ela me traz muito stress? Talvez uma das coisas que você escreveu na Primeira Nobre Verdade tenha sido stress. Portanto agora olhamos para o Meio de Vida Correto e nos perguntamos quanto stress nosso trabalho nos dá? Como é nosso local de trabalho? É um local onde nos sentimos relaxados?Trazemos uma flor ou uma planta verde para colocar no nosso local de trabalho para fazer dele um local onde possamos relaxar e respirar? Como podemos fazer de nosso local de trabalho um local não estressante? Como podemos fazer um tipo de trabalho que nutra nossa compaixão, de forma que quando formos ao trabalho possamos olhar nossos colegas com olhos de amor e possamos cuidar deles? Quando dizemos pela manhã “como vai você”, algumas pessoas não esperam uma resposta a isso, eles apenas se expressam enquanto caminham. “Como está você?” e a outra pessoa diz, “Como está você?” Mesmo quando vou ao médico às vezes ele diz “Como está você?” e ele espera que eu responda “Ótima”. Mas a razão pela qual o procurei é que eu não estava ótima.
Quando vamos ao trabalho, o que podemos fazer é perguntar “Como está você?” e realmente querer dizer isso. Eu quero ouvir como você está. “Você dormiu bem a última noite?” e assim por diante porque eu me importo com você. Então nosso local de trabalho começa a ter mais compaixão nele.
(Palestra de Dharma da irmã Annabel, abadessa do Centro de Dharma Green Mountain em Vermont, ligado a Plum Village, em 24 de agosto de 2007 – Traduzido da revista Mindfulness Bell 48 por Leonardo Dobbin)
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(*) No texto anterior foram discutidas a Visão Correta e o Pensamento Correto
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