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Estudos Budistas
Tradição
do Ven. Thich Nhat Hanh
Como lidar com a perda de um ser amado
Podemos visualizar uma nuvem no céu. Talvez uma parte da nuvem tenha se tornado a chuva e devemos estar cientes de que apenas metade de uma nuvem permanece na mesma forma, mas metade da nuvem assumiu outra forma. Você não pode dizer que a chuva é menos bonita que a nuvem, ou que a nuvem é menos bonita que a chuva. Ambas podem ser lindas.
Quando você mora com seu ente querido, saiba que ele é uma espécie de nuvem. Você também é uma espécie de nuvem e não está inteiramente aqui neste corpo, porque todos os dias você produz pensamentos, falas e ações que continuam você. Então é como uma nuvem no céu. Todos os dias a nuvem pode produzir chuva e neve ou granizo e já podemos ver a continuação da nuvem, mesmo que a nuvem ainda esteja lá, no céu.
Nós, seres humanos, produzimos pensamentos, palavras e ações todos os dias, e essa é a nossa continuação. Temos que meditar para nos ver não apenas neste corpo, mas fora deste corpo. Agora posso me ver não apenas neste corpo. Eu posso me ver nos meus amigos, nos meus discípulos, no meu trabalho, em muitas coisas, e se você quiser me reconhecer, não olhe nesta direção. Esta é apenas uma pequena parte de mim.
Então a pessoa que você acredita que você perdeu, você não perdeu. Ela ainda está presente em outras formas. Procure-a em você, procure-a em seus filhos. Essa pessoa ainda está disponível aqui e agora. Então, quando você olhar para a chuva ou para o chá, se você reconhecer sua nuvem na chuva ou no chá, então sua tristeza desaparecerá. Você sabe que sua nuvem ainda existe em novas formas e pode conversar com ela. Você pode estar com sua nuvem.
Então é isso que chamamos de ausência de sinais. Você não é capturado por uma forma específica. Você pode reconhecer seu ente querido em muitos outros tipos de formas. Acho que é fácil ver o pai nos filhos. e você pode falar com o pai através dos filhos, e você pode cuidar do pai cuidando dos filhos. Ele não está apenas nos filhos, mas também em você. Mas o fato é que nada nasce, nada morre. É impossível para uma nuvem morrer, então é impossível alguém morrer e se tornar nada.
É por isso que a meditação sobre a morte é tão útil. Meditação sobre a morte ajuda você a ver que não há morte. Não há nascimento e morte, há apenas transformação. Nada pode ser perdido. Às vezes seu ente querido pode se esconder e assumir outra forma para que você saiba melhor como valorizar sua presença.
No sutra de lótus há um capítulo que fala sobre um médico que tem o poder de curar. Seus filhos confiavam na presença dele. “Temos um pai que pode nos curar, não precisamos tomar remédio. Não precisamos fazer nada.” Então o médico quis ajudá-los, foi embora e mandou avisar que estava morto. As crianças choraram e choraram e começam a tomar o remédio e ficam curadas. Então o pai teve que se esconder para ajudar seus filhos a tomar os remédios.
Então nós, muitos de nós, somos assim. Não apreciamos o suficiente a presença de nosso ente querido até que não o vejamos mais aquela forma familiar. E nós aprendemos. E aprendemos e nos curamos, e redescobrimos nosso ente querido em outras formas. A meditação sobre a morte é uma meditação muito importante. Quando você medita sobre a morte, você ama mais a vida. Você valoriza mais a vida e podemos aprender muitas lições.
A atenção plena nos permite reconhecer, valorizar o que ainda está disponível para que no futuro não digamos que "bem, enquanto essa pessoa estava viva eu não tinha conhecimento de sua preciosa presença". É por isso que é tão importante ir para casa no aqui e agora reconhecer e valorizar todos os elementos positivos que ainda estão disponíveis. Então, com a prática da atenção plena, podemos olhar profundamente e descobrir a natureza do não nascimento e da não morte.
Descobrimos que nada, nada pode morrer. Nada pode ser perdido. Quando vivo, todos os dias vivo com minha sangha: monges, monjas, praticantes leigos. Descubro que minha sangha se parece exatamente com a sangha do buda. Eles têm quase os mesmos problemas: a mesma alegria, a mesma felicidade, o mesmo sofrimento, os mesmos problemas. Sinto que o Buda e a sangha do Buda estão disponíveis para mim aqui e agora. Eu não sinto falta do Buda. Não sinto falta da sangha do Buda, porque sou capaz de ver o Buda e sua sangha na minha sangha. Porque minha sangha é, antes de tudo, a continuação da sangha do Buda. Temos o Buda disponível. e nós temos a sangha do Buda disponível, hoje. Então não tem como ficar triste.
(Palestra de Dharma de 21 de maio de 2014 em New Hamlet.– transcrito do vídeo do YouTube
https://youtu.be/K4lESILrGaQ)
Traduzido por Leonardo Dobbin)
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