Sangha
Virtual
Estudos Budistas
Tradio
do Ven. Thich Nhat Hanh
Experimentando a Mente
Agora chegamos ao nono exerccio da respirao consciente: "Experimentando a mente, eu respiro". Mente significa formaes mentais. Estamos presentes para as formaes mentais. Estamos presentes para as formaes mentais que negligenciamos no passado. Isso equivalente ao primeiro grupo de quatro exerccios de experimentar o corpo e o segundo grupo de experimentar sentimentos. A prtica a mesma - vamos para casa e cuidamos de ns mesmos. Primeiro nosso corpo, depois nossos sentimentos e agora nossas formaes mentais.
Primeiro, simplesmente reconhecemos a presena de uma formao mental. No tentamos compreend-la, possu-la ou nos apegar a ela. Tambm no tentamos afast-la. Isso chamado de simples reconhecimento de uma formao mental. Reconhea, chame-a pelo seu nome verdadeiro e diga: Estou aqui para cuidar de voc porque voc eu mesmo.
J sabemos que muitos de ns no querem ir para casa sozinhos. Ns estamos com medo. H muitos sofrimentos e conflitos internos que queremos evitar. Reclamamos que no temos tempo para viver, mas tentamos matar nosso tempo livre, no voltando para ns mesmos. Ns escapamos ligando a televiso ou pegando um romance ou revista; ns samos para dar uma volta. Fugimos de ns mesmos e no atendemos ao nosso corpo, sentimentos ou formaes mentais.
Temos que ir para casa. Se estamos em guerra com nossos pais, amigos, sociedade ou igreja, pode ser porque h uma guerra em nosso interior. Uma guerra interna facilita outras guerras. Os cinco elementos - formas, sentimentos, percepes, formaes mentais e conscincia - compreendem um grande territrio. Cada um de ns o rei ou rainha de seu territrio dos Cinco Skandhas, mas no somos monarcas responsveis. No queremos examinar nosso territrio ou govern-lo. Ns apenas queremos abandon-lo. H muitas guerras sendo travadas nele. Isso se tornou uma baguna, porque ns apenas queremos escapar e temos medo de voltar ao nosso prprio reino. O Buda nos aconselhou a ir para casa e arrum-la, restaurando nossa paz e harmonia.
Como mencionei antes, temos medo de voltar para casa porque nos faltam as ferramentas ou os meios de autoproteo. Equipados com ateno plena, podemos ir para casa com segurana e no seremos dominados por nossa dor, tristeza e depresso. Voltando para casa conscientemente, podemos conversar com nossa criana interior ferida usando o seguinte mantra: Querido, eu voltei para casa. Eu estou aqui por voc. Eu tomo voc em meus braos. Lamento ter deixado voc sozinho por um longo tempo. Com algum treinamento, com uma caminhada consciente e uma respirao consciente, seremos capazes de voltar para casa e abraar nossa dor e tristeza.
A prtica da meditao no significa que voc se transforma em um campo de batalha, com lados bons e maus lutando entre si. Isso no verdade para a tradio budista. No h batalhas a serem travadas. Nossos elementos positivos e negativos so todas partes orgnicas de ns. Se tivermos habilidade na arte de abraar e transformar, podemos transformar os elementos negativos em positivos. Tambm no jogamos nada fora; transformamos nosso lixo em adubo.
A ateno plena orgnica e pode ser alimentada por outras energias. Quando a energia da ateno plena abraa qualquer outra formao mental, produz transformao. As muitas funes da ateno plena incluem reconhecer, acalmar, nutrir, transformar e cuidar das formaes mentais que se manifestam. As formaes mentais reprimidas sempre tentam emergir, ser reconhecidas e abraadas por ns. Primeiro, reconhecemos a parte visvel - como um iceberg com apenas a ponta aparecendo acima da gua. Depois de identific-la, tocamos a grande parte subaqutica. Toda vez que h uma manifestao, produzimos ateno plena para reconhec-la e abra-la.
Todos sabemos que preferimos no reconhecer nossa criana interior ferida. Em vez disso, queremos envi-la para um lugar muito profundo, onde nunca precisamos ir. Mas nossa criana ferida sempre tenta aparecer e dizer: "Estou aqui. Estou aqui. Voc no pode me evitar. Voc no pode fugir de mim. Nossa prtica ir para casa e reconhecer os diferentes aspectos de nossa criana ferida. Abraamos cada aspecto at que finalmente possamos abraar a criana inteira. Nossa Sangha pode nos apoiar nessa prtica.
Se as formaes mentais se manifestarem durante a meditao sentada e te impedem de meditar, voc pode precisar reconhec-las uma a uma. Isso tambm meditao. Quando um pensamento, sentimento, percepo, dor ou tristeza se manifesta, pratique a inspirao e a expirao e reconhea-a pelo que . Diga: Eu conheo voc. Eu sei que voc est presente. Estou aqui por voc , e aceite-a. O objeto de nossa prtica no nono exerccio qualquer tipo de formao mental - cime, medo, dio, desespero, inquietao - positiva ou negativa.
Quando voc est meditando sobre um assunto interessante, seu poder de concentrao suficiente para acalmar suas formaes mentais. Isso chamado de meditao guiada ou dirigida. Voc escolhe um assunto especial para meditao e olha profundamente para descobrir algo. Quanto mais interessante o assunto, mais forte a sua concentrao. Se no for interessante, mesmo que se esforce, voc ainda se sentir sonolento e outras coisas continuaro surgindo. Uma meditao guiada identificar e escrever os nomes de todas as nossas vacas. Outra escrever o que podemos fazer por ns mesmos todos os dias para nos trazer alegria. No comeo, voc pode pensar que no h muitas coisas, mas quando se senta e olha profundamente, descobre dezenas.
Outra maneira de trabalhar com sua mente permitir que as coisas apaream e lidar com elas com ateno plena. Voc nutre sua respirao consciente e reconhece cada formao mental que se manifesta. Toda vez que voc abraa uma formao mental saudvel, sua alegria e felicidade aumentam e a formao mental saudvel cresce. Voc percebe sua compaixo e f no Dharma e usa a felicidade que recebe para se alimentar. Toda vez que formaes mentais negativas, prejudiciais e dolorosas se manifestam, voc as reconhece e as abraa para acalm-las e olha profundamente para elas.
(Do livro The Path of Emancipation Thich Nhat Hanh)
(Traduzido por Leonardo Dobbin)
Comente esse texto em http://sangavirtual.blogspot.com
Caso queira obter esse texto em formato PDF clique aqui