Sangha Virtual

 Estudos Budistas

Tradio do Ven. Thich Nhat Hanh

 

Mente e Corpo Interso

 

Nos ensinamentos do Buda, a expresso namarupa por vezes usada para se referir nossa pessoa. Nama significa "mental" e rupa significa "fsico". Fazemos uma distino entre o fsico e o mental. Pensamos que nosso corpo fsico e nossos sentimentos, percepes, formaes mentais e conscincia so mentais.

 

Este um tipo de discriminao. Ns tendemos a acreditar que nama no rupa, e rupa no nama. Devemos aprender a olhar a luz da interexistncia. Se voc tirar nama de rupa, rupa entrar em colapso, e se voc tirar rupa de nama, nama entrar em colapso.

 

Namarupa, corpo e mente, so dois aspectos da mesma realidade. s vezes chamamos de nama e s vezes chamamos de rupa. por isso que, em vez de escrever duas palavras, podemos escrever namarupa.

 

Essa maneira de pensar um pouco difcil no comeo, mas voc vai se acostumar com isso, como o fsico nuclear que diz que partculas elementares s vezes se revelam como ondas e, s vezes, como partculas. No entanto, a mesma realidade. No comeo, pensamos que se algo uma onda, ento no pode ser uma partcula, e se algo uma partcula, no pode ser uma onda. De fato, uma partcula elementar s vezes se manifesta como uma onda e s vezes como uma partcula. por isso que os cientistas criaram a palavra "wavicle". O mesmo acontece com nosso corpo e mente. Pensamos que a mente e a matria so opostas, mas a mente pode se manifestar como matria e a matria pode se manifestar como mente. estranho, mas a verdade.

 

Os Quatro Estabelecimentos de Ateno Plena so os quatro fundamentos para olhar profundamente em nossa meditao. O primeiro estabelecimento da ateno plena a contemplao do corpo no corpo; o segundo estabelecimento da ateno plena a contemplao dos sentimentos nos sentimentos; o terceiro estabelecimento da ateno plena a contemplao da mente na mente; e o quarto estabelecimento da ateno plena a contemplao de objetos de objetos da mente (dharmas). Aqui, dharma no significa o ensinamento do Buda, significa fenmenos ou formaes, como uma flor, uma nuvem, uma rvore ou a raiva. Dharmas so descritos como objetos da mente. O que no um objeto de mente? Montanhas, rios, flores, rvores, raiva, amor e nosso corpo so todos objetos da nossa mente. Dharmas so o mundo fenomenal. (...)

 

Por que o Buda diz no Discurso sobre os Quatro Estabelecimentos de Ateno Plena que devemos contemplar o corpo no corpo, os sentimentos nos sentimentos? Por que essa repetio? Porque, para praticar a ateno plena e olhar profundamente, no podemos permanecer como um observador, estando fora do objeto de nossa investigao. Isso importante. Quando inspiramos conscientemente e abraamos nosso corpo, nossa respirao tem que se tornar una com nosso corpo para que a prtica seja bem-sucedida.

 

A mente pode se manifestar de cinquenta e uma maneiras. s vezes se manifesta como amor. O amor sempre precisa de um objeto. Amar sempre amar alguma coisa ou algum. No pode haver apenas amor sem um objeto. Conscincia sempre conscincia de algo. Estar atento significa estar atento a alguma coisa. Voc no pode estar atento sem um objeto. Quando voc est atento ao seu corpo e respirao, seu corpo se torna o objeto de sua ateno plena. Isso significa que se torna ateno plena. Quando voc respira e abraa seu corpo, seu corpo sua ateno plena. Sua ateno plena se tornou seu corpo, e seu corpo se tornou sua ateno plena. No h mais distino entre o sujeito e o objeto, o conhecedor e o conhecido. Isso muito importante no ensinamento do Buda e em nossa prtica.

 

A palavra francesa comprendre significa entender, compreender. Com significa ser um com e prendre significa pegar, ento comprendre significa pegar algo e se tornar um com ele. Quando queremos realmente entender alguma coisa, temos que ser essa coisa. Na meditao profunda, a distino entre sujeito e objeto desaparece. No h mais uma distino entre o sujeito e o objeto da cognio.

 

Temos que nos treinar para poder fazer isso. Estamos acostumados a dizer que o corpo no a mente e que a mente o sujeito da investigao, o conhecedor. A mente quer conhecer o corpo e o corpo o objeto. Mas de acordo com o princpio que mencionei, a cognio s possvel com sujeito e objeto juntos, e ambos nascem ao mesmo tempo. como o momento em que voc tem um lado direito, voc tem imediatamente o lado esquerdo.

 

por isso que o Buda disse: Contemplao do corpo no corpo. Contemplao dos sentimentos nos sentimentos. "A fronteira entre sujeito e objeto removida, e ento a compreenso, a penetrao, torna-se possvel. A palavra penetrao boa porque significa que voc no fica mais de fora para observar. Cientistas do nosso tempo reconheceram isso: para realmente entender um eltron, voc no pode ser um observador, voc tem que ser um participante.

 

(Do livro The Path of Emancipation Thich Nhat Hanh)

(Traduzido por Leonardo Dobbin)

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