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do Ven. Thich Nhat Hanh
Terceiro Treinamento: Verdadeiro Amor
Consciente do sofrimento causado pela má conduta sexual, eu me comprometo a cultivar a responsabilidade e a aprender maneiras de proteger a segurança e a integridade dos indivíduos, casais, famílias e da sociedade como um todo. Consciente de que desejo sexual não significa amor e que a atividade sexual motivada pelo desejo irá somente ferir a mim e aos outros, estou determinado a não me envolver em relações sexuais sem verdadeiro amor e sem um compromisso profundo e de longo prazo apoiado pela minha família e pelos meus amigos. Farei tudo o que estiver ao meu alcance para proteger as crianças do abuso sexual e para evitar que famílias sejam desfeitas pela má conduta sexual. Percebo que corpo e mente são um só e me comprometo a aprender maneiras apropriadas de cuidar da minha energia sexual e a cultivar a bondade amorosa, a compaixão, a alegria e a inclusão, que são os quatro elementos básicos do verdadeiro amor - para minha maior felicidade e para a maior felicidade de todos. Ao praticar o verdadeiro amor, poderei prosseguir de maneira mais bela no futuro.
O Terceiro Treinamento da Plena Consciência é sobre aprender a praticar o amor verdadeiro. Muitas canções têm letras que dizem: "Eu te amo, eu preciso de você", como se amar significasse simplesmente usar uma outra pessoa para atender suas necessidades. Somos ensinados a pensar que o amor é o sentimento que você tem quando acha que não pode sobreviver sem a outra pessoa.
Nosso desejo original, como um recém-nascido era sobreviver. Como um bebê recém-nascido, você estava indefeso. Você tinha braços e pés, mas não podia se mover, você não podia ir a lugar nenhum ou fazer qualquer coisa por si mesmo.
Durante seu nascimento você experimentou momentos de perigo. Em seguida, cortaram o cordão umbilical. Você veio de um lugar muito macio, escuro e confortável para fora onde havia luzes brilhantes e uma superfície dura. Você tinha que expulsar o líquido de seus pulmões para que pudesse respirar a sua primeira respiração, foi um momento perigoso. Você ainda não conhecia a linguagem dos seres humanos.
Quando tinha apenas alguns dias de vida, cada vez que ouvia o som de passos se aproximando, você ficava feliz, porque isso significava que alguém estava te trazendo leite, conforto e aconchego. Você precisava de outra pessoa; não poderia sobreviver sem alguém estar presente. Essa é a necessidade original, o amor original e o medo original - o medo que ninguém estivesse lá para cuidar de você. Você estava completamente indefeso. Você precisava de uma outra pessoa. Felizmente, houve um adulto que cuidou de você. Talvez fosse uma mãe, um pai ou outro parente. Quem quer que fosse, por ser uma criança, você provavelmente se apaixonou por essa pessoa, o seu cheiro, o som de seus passos e a forma de sua face. Essa pessoa é o seu amor original, um amor nascido da sua necessidade.
Na Ásia, quando as pessoas se beijam usam o nariz mais do que a boca. Usando o nariz, podemos reconhecer a pessoa; é tão agradável. Quando somos crianças, o cheiro da pessoa que toma conta de nós é o cheiro mais maravilhoso do mundo, porque precisamos dessa pessoa. Então, na Ásia, quando as pessoas se beijam, usam principalmente o nariz, a fim de apreciar o cheiro do outro. Essa é a continuação do desejo original, o desejo de ter essa pessoa perto de nós, o desejo de ouvir os passos que vêm cada vez mais perto. Durante dia e noite, como um bebê, esperamos ouvir o som de passos e sermos capaz de sentir aquele cheiro.
Mas a partir deste desejo original do bebê em nós, podem vir muitos desejos doentios. Podemos nos sentir incompletos sem um parceiro ou nos sentir perdidos, sem um relacionamento romântico. Nós achamos que precisamos de alguém para nos proteger e cuidar de nós e que é o papel da outra pessoa fazer isso. Talvez estar em torno da outra pessoa faça nos sentir relaxados e seguros, como nos sentíamos ao tomarem conta de nós quando éramos crianças.
O Terceiro Treinamento é um lembrete de que podemos amar as pessoas a partir da compreensão e da compaixão e não apenas por necessidade. Quando amamos alguém, temos que ver que somos um com essa pessoa. O seu sofrimento é nosso sofrimento e nosso sofrimento é o dela. Não podemos excluir a outra pessoa da nossa própria felicidade e sofrimento. A segurança e a integridade da outra pessoa é a nossa própria segurança e integridade. O corpo e a mente do nosso amado é um espaço sagrado que precisa ser respeitado. Só então pode haver amor verdadeiro.
Se você olhar para o corpo da outra pessoa como uma ferramenta para satisfazer o seu desejo, então, o relacionamento perde todo o seu caráter sagrado. Corpo e mente não são duas coisas separadas. Se o corpo está poluído, a mente também estará poluída, ferida, e oprimida. Se a mente é um todo, o corpo também é. Se não virmos o corpo como algo sagrado não vamos ver a mente como algo sagrado. Devemos considerar preservar o nosso corpo assim como consideramos preservar nossa mente e vice-versa. Em geral, só compartilhamos os segredos mais profundos do nosso coração com alguém em quem temos total confiança, o nosso amigo próximo de toda a vida. O mesmo acontece com o nosso corpo. É só quando temos uma relação profunda e comprometida com alguém que devemos confiar o nosso corpo a ela. Dessa forma o amor sexual se torna algo muito sagrado.
O amor é um processo de descoberta. O Terceiro Treinamento nos lembra que quando buscamos prazer vazio através da atividade sexual, destruímos a felicidade e destruímos o amor. Relações sexuais irrefletidas sem verdadeiro amor fazem com que as pessoas sintam que perderam algo muito precioso em suas vidas. Um menino ou menina que são abusados sexualmente sofrem terrivelmente e o sofrimento pode ficar com eles por toda a sua vida. Nosso corpo tem certas áreas sagradas, que ninguém tem o direito de tocar sem a nossa permissão explícita, que damos quando adultos. A integridade do nosso corpo está ligada à integridade da nossa alma. Alguém que não respeita seu corpo não pode respeitar a sua mente. Seu corpo não é um brinquedo para alguém brincar. Quando protegemos nosso corpo, fazemos isso também para o bem dos nossos filhos, nossos netos e todos os nossos ancestrais e descendentes.
Todo mundo tem energia sexual. A energia sexual em si não é prejudicial. Quando a energia sexual leva a atividade que causa sofrimento, é doentia. O Terceiro Treinamento nos lembra de nos comprometer a aprender maneiras de cuidar da energia sexual em nós mesmos. Claro que o Buda tinha energia sexual também. Ele tornou-se iluminado aos trinta e cinco anos, uma idade jovem, quando a energia sexual ainda é forte. Mas, com sua prática de atenção plena e concentração ele pode transformar e concentrar essa energia em outras formas. Ele sabia como direcionar sua energia para ajudar os outros e o mundo.
Comer com moderação, abstendo-se de beber álcool e garantir que fazemos atividade física todos os dias são coisas que podemos fazer para nos ajudar a cuidar de nossa energia sexual.
Na minha tradição monástica, temos uma prática chamada de segundo corpo. Nós sempre temos um outro monge ou monja ao nosso lado para nos proteger. Nós não saímos sozinhos ou temos conversas clandestinas. As pessoas que vivem no mundo podem ser constantemente expostas a mensagens, a partir da publicidade e mídia, incentivando a expressão da energia sexual. Há uma grande quantidade de sexo para ser descoberto no mundo, mas não muito amor. O foco sobre a sexualidade é tão difundido que a leitura do Terceiro Treinamento não é suficiente. Precisamos aprender a cuidar de nossos corpos e mentes e tratar os corpos e mentes dos outros com respeito.
(Do livro “The mindfulness survival kit”– Thich Nhat Hanh)
(Traduzido por Leonardo Dobbin)
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