Sangha
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Estudos Budistas
Tradição
do Ven. Thich Nhat Hanh
A prática de Visitar o Buda
Eu gostaria de lhes lembrar da prática de visitar o Buda, que eu propus às crianças na Holanda - elas amaram! E se os adultos desejarem praticar, também será bom. Visitando o Buda. O Buda está dentro de vocês, o real Buda. O Buda que vocês vêem no jardim é um Buda, mas feito com gesso, não é um Buda real. Quando vocês se curvam àquele Buda, se curvarem-se corretamente, vocês tocarão o Buda interno. Um Buda real não é feito de cobre ou ouro ou gesso - um Buda real é feito com consciência. Consciência leva ao entendimento, à paz, e ao amor. Assim, curvem-se ao Buda de tal modo que vocês toquem o Buda interno, e saibam que o Buda não é algo abstrato, é a sua consciência.
Vocês experimentaram o estar atento às vezes. Vocês são capazes de beber um copo de leite atentamente. Um dia eu estava bebendo meu leite, muito lentamente e com atenção. Eu percebi a vaca como minha mãe adotiva. Sinto-me muito feliz por ter a chance de não comer a minha mãe. Eu sou vegetariano, e eu me sinto muito afortunado por não ser forçado a comer a carne de minha mãe adotiva. Toda vez que me dirijo do Upper Hamlet para o Lower Hamlet e olho a grama, eu vejo o leite dentro dela, porque uma mãe vaca eventualmente a comerá e esta grama se tornará leite. Assim quando eu olho o leite vejo a grama e quando eu olho a grama eu vejo leite, vejo a água, vejo o céu, vejo o raio de sol, e pratico desta forma todo dia. Eu posso ver a natureza do ser integrado em tudo, em todo o mundo.
Isto é extremamente bom porque me revela um mundo maravilhoso de interconexão. Tentar olhar as coisas deste modo reduzirá todo meu medo, preconceito e raiva. É muito importante, porque no Budismo nós falamos sobre a liberação do sofrimento através do entendimento. As crianças experimentam a capacidade de ser compassivas, ser amorosas, estarem tranqüilas às vezes - portanto o Buda é real, no íntimo. Não há nenhuma dúvida.
Quando eu faço uma flor de lótus e me curvo para uma criança, digo: " Um lótus para você, minha querida, você que será um Buda um dia." Se você quer ser um Buda, pode ser um Buda. Um Buda é alguém feito de consciência. Vocês sabem beber um copo de leite atentamente. Vocês sabem como caminhar atentamente ou respirar atentamente. Durante o tempo em que vocês fazem isso, tocam o Buda em vocês, a natureza de Buda em vocês.
Assim é muito agradável visitar o Buda interno de vez em quando. Vocês podem gostar de se sentar quietamente, inspirar e expirar durante alguns minutos, se acalmar, e então perguntar, "Pequeno Buda, meu pequeno Buda, está aí?" Perguntem profundamente, façam a pergunta profunda e quietamente, "Meu pequeno Buda, você está aí?" No princípio vocês podem não ouvir a resposta. Sempre há uma resposta, mas por não estarem calmos o bastante, vocês não ouvem a resposta. "Há alguém aí? Pequeno Buda, você está aí?" Então em um segundo momento vocês começam a ouvir a voz de seu pequeno Buda lhes respondendo, "Sim, meu querido, claro que eu sempre estou presente para você".
Quando vocês ouvirem isso, sorrirão, "Eu sei. Pequeno Buda, você é minha calma. Sei que sempre está aí e eu preciso de você, para ficar tranqüilo de vez em quando. Às vezes eu não estou bastante calmo. Eu grito, eu ajo como se não tivesse o Buda em mim. Mas como sei que você está aí, sei que tenho a capacidade de ser tranqüilo. Agradeço a você pequeno Buda, você é minha paz. Eu preciso que você esteja presente." E o pequeno Buda diz, "Claro que eu estarei presente para você todo o tempo. Apenas venha e me visite a qualquer hora que precisar." Essa é a prática de tocar o Buda interno. É uma prática muito importante. Não só para crianças, mas para todos nós.
Eu amo me sentar perto de crianças por causa de seu frescor. Toda vez que seguro a mão de uma criança e pratico a meditação caminhando, usufruo de seu frescor. Eu deveria lhes oferecer minha estabilidade, mas eu sempre usufruo de seu frescor. Segurar a mão de uma criança em plena consciência, lhes oferecendo um pouco de estabilidade, e recebendo muito frescor - isto é o que amo fazer. Você diz, "Querido pequeno Buda, você é meu frescor. Obrigado por estar aí." Vocês têm confiança porque puderam se manter frescos, muitas vezes. Se você toca o Buda, o frescor em você continua crescendo. Os adultos, eles também praticam assim. "Querido pequeno Buda, você é minha ternura." Ternura é tudo que nós precisamos e as crianças provam ser ternas, muitas vezes.
"Querido pequeno Buda, você é minha consciência," isto é uma verdade. Porque um Buda é alguém feito de uma energia chamada consciência. Estar atento significa estar consciente do que está acontecendo, e isto só é possível quando vocês realmente estão presentes. Se vocês realmente estão presentes cem por cento, estarão atentos ao que está acontecendo. Esta é uma prática muito essencial.
"Querido Buda, você é minha compreensão." É verdade, Buda é o poder da compreensão. Porque se vocês estão presentes, estão muito alertas. Você compreende tudo o que está acontecendo, eis porque entende as coisas e pessoas muito facilmente. Assim, "Pequeno Buda, você é minha compreensão. Eu preciso muito de você porque sei que a compreensão é a base do amor." Se vocês não entendem alguém, não podem amá-lo. Eis porque o entender é tão crucial.
"Querido pequeno Buda, você é meu amor. Você é a capacidade de amar." Crianças, é claro, têm a capacidade de amar. Se elas tocam aquela capacidade diariamente, o seu amor crescerá, sua capacidade de amar crescerá, e estarão no caminho da plena realização do Buda interior.
Assim vocês praticam o sentar-se lá e tocam estas qualidades do Buda interior. Vocês tocam o Buda real, não o Buda de gesso, cobre ou mesmo de esmeralda. Para o praticante, Buda não é um deus. Buda não é alguém no céu, em uma montanha. Buda está vivo, é um Buda vivo este que está em nós. Falem-me de uma pessoa que não possui a natureza de Buda dentro dele ou dela. Não é possível. No Budismo Mahayana, a mensagem mais importante de todos os sutras é que todos os seres têm a capacidade de ser um Buda. A capacidade de amor, compreensão, e ser iluminado. Isso é a mensagem mais importante de todos os sutras.
Portanto, esta é uma prática muito profunda. Vocês podem gastar apenas uns três ou quatro minutos nesta prática. Vocês podem gostar de colocar seus dedos nos seus corações e praticar a visita ao Buda interior. O Buda está em seu coração, e também em todos os lugares de seu corpo, não apenas no coração. Em seu estômago, também. Às vezes vocês sentem que o medo está em seus estômagos, mas deveriam saber que o Buda está ao mesmo tempo em seus estômagos. A escolha é de vocês.
Depois de alguns minutos de prática assim, pratiquem a sós, ou junto com alguns amigos. Vocês dizem, "Querido Buda, é muito confortável saber que você está aí". O Buda sempre dirá, "Claro que eu sempre estou aqui para você. Mas, por favor, visite-me mais freqüentemente!". Porque toda vez que vocês visitam o Buda, o Buda em vocês lucra. O Buda em vocês terá mais espaço e mais ar para respirar. Porque durante o dia vocês podem ter sofrido muito, e mergulham na raiva, ódio, frustração, sofrimentos. Desta forma privam o Buda de ar fresco para respirar. Assim seu pequeno Buda interno pode estar sufocando um pouco. Mas toda vez quem praticam o tocar o Buda, vocês abrem muito espaço, e ar. O Buda dentro de vocês então tem uma chance de crescer. É muito importante. A meditação sentada serve para quê? A meditação caminhando serve para quê? Para dar ao Buda interno uma chance de crescer.
"Querido pequeno Buda, preciso muito de você" e o pequeno Buda em vocês dirá, "Querido, eu também preciso muito de você. Por favor, venha e visite-me mais freqüentemente". Esta prática é chamada memória do Buda e é ensinada em toda escola de Budismo. Você toca o Buda, toca todas as qualidades do Buda, e sabe que o Buda é absolutamente real - não como uma idéia, não como uma noção, mas como uma realidade. Nossa tarefa, nossa vida, nossa prática, é nutrir o Buda e dar a nós mesmos e às pessoas que amamos uma chance.
(Dharma Talk de Thich Nhat Hanh em Plum Village em13 de julho de 1996).
(Traduzido por Cláudio Miklos)
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