Sangha
Virtual
Estudos Budistas
Tradição
do Ven. Thich Nhat Hanh
Praticando na Sangha
Se você é um iniciante na prática e na Sangha, não deveria se preocupar sobre a coisa certa a fazer. Quando cercado por muitas pessoas, podemos ser capturados pela idéia, “Eu não sei qual é a coisa certa a fazer.” Esta idéia nos faz muito desconfortáveis. Podemos pensar, “eu me sinto envergonhado porque não estou fazendo a coisa certa. Há pessoas reverenciando e eu não. Pessoas andando devagar e eu andando um pouco rápido.” Portanto a idéia de que podemos não estar fazendo a coisa certa pode nos embaraçar.
Eu gostaria de te falar qual realmente é a coisa correta. A coisa correta é fazer o que você estiver fazendo em plena atenção. Se você não reverencia, mas está em plena atenção, não reverenciar é a coisa certa a fazer. Mesmo se as pessoas estão andando devagar e você corre, estará fazendo a coisa correta se estiver correndo em plena atenção. A coisa errada é o que quer que você faça sem plena atenção. Se entendermos isso, não ficaremos mais embaraçados. Tudo que fazemos é correto desde que o façamos em plena atenção. Reverenciar ou não reverenciar não é a questão. A questão é se reverenciamos em plena atenção ou não, ou não reverenciamos em plena atenção ou não.
Se você dá um passo e se sente em paz e feliz, sabe que esta é a prática correta. Você é o único que sabe se está fazendo isto corretamente ou não. Ninguém mais pode julgar. Quando você pratica inspirando e expirando, se você se sente em paz, se você desfruta sua inspiração e expiração, sabe que está fazendo isso corretamente. Você é o melhor para saber. Tenha confiança em você mesmo. Onde quer que se encontre, se estiver se sentindo a vontade e em paz, sem estar sob pressão, então está fazendo a coisa certa.
A função do sino na Sangha é nos trazer de volta a nós mesmos. Quando ouvimos o sino, voltamos a nós mesmos e respiramos, e neste ponto melhoramos a qualidade da energia de nossa Sangha. Sabemos que nosso irmão e irmã, onde quer que estejam, estarão parando, respirando e voltando a eles mesmos. Eles estarão gerando a energia da correta plena atenção, a energia da Sangha. Quando olhamos uns aos outros, nos sentimos confiantes, porque todos estão praticando juntos da mesma forma e contribuindo para a qualidade da Sangha. Portanto somos amigos no caminho da prática.
A Sangha é feita do trabalho dos indivíduos, portanto temos o dever de ajudar a criar a energia da Sangha. Nossa presença, quando é uma plena de atenção, contribui para essa energia. Quando estamos ausentes durante as atividades da Sangha, não estamos contribuindo para a sua energia. Se não vamos a uma meditação sentada, não estamos alimentando a Sangha. Também estamos deixando a nós mesmos com fome, porque não nos estamos beneficiando da Sangha. Não lucramos com a Sangha, e a Sangha não lucra conosco.
Não pense que sentamos por nós mesmos. Você não senta por você somente, senta por toda a Sangha. Não apenas pela Sangha, mas também pelas pessoas na sua cidade, porque quando uma pessoa na cidade está com menos raiva, está sorrindo mais, a cidade toda lucra. Se praticarmos olhar profundamente, nosso entendimento do interser crescerá, e veremos que cada sorriso, cada passo, cada respiração é por todos. É por nosso país, pelo futuro, pelos nossos ancestrais.
A melhor coisa que podemos fazer é nos transformar em um elemento positivo da Sangha. Se os membros da Sangha nos vêem praticando bem, eles terão confiança e farão melhor. Se há dois, três, quatro, cinco, seis, sete como você na Sangha, estou certo que será uma Sangha feliz e será o refúgio de muitas pessoas no mundo.
Nossa transformação e cura dependem da qualidade da Sangha. Se há pessoas suficientes sorrindo e felizes na Sangha, ela tem mais possibilidade de cura e transformação. Portanto você tem que investir em sua Sangha. Cada membro da Sangha tem suas fraquezas e forças, e você tem que reconhecê-las de forma a fazer bom uso dos elementos positivos pelo bem de toda Sangha. Você também tem que reconhecer os elementos negativos de forma que você e a Sangha inteira possam ajudar a abraçá-los. Você não deixa o elemento negativo para a pessoa apenas, porque ela pode não ser capaz de lidar e transformar por ela mesmo.
Você não precisa de uma Sangha perfeita. Uma família ou uma comunidade não tem que ser perfeita de forma que possa ajudar. De fato, a Sangha no tempo do Buda não era perfeita. Mas era suficiente para as pessoas tomarem refúgio nela, porque na Sangha havia pessoas que tinham suficiente compaixão, solidez e insight para abraçar outros que não tinham esses elementos. Eu também tenho algumas dificuldades com minha Sangha, mas estou muito feliz porque todos tentam praticar na minha Sangha.
Se vivêssemos em uma Sangha onde todos fossem perfeitos, todos fossem um bodisatva ou um Buda, seria muito difícil para nós. A fraqueza na outra pessoa é muito importante e a fraqueza em nós mesmos também. A raiva em nós, ciúme em nós, arrogância em nós, enfim, este tipo de coisas são muito humanas. É graças a presença da fraqueza em você e a fraqueza no irmão ou irmã que você aprende como praticar. Praticar é ter uma oportunidade de transformar. Portanto é devido às nossas limitações que podemos aprender a praticar.
Há algumas pessoas que pensam em deixar a Sangha quando encontram dificuldades com outros membros da Sangha. Eles não podem suportar pequenas injustiças infligidas a elas porque seus corações são pequenos. Para ajudar a seu coração crescer e crescer, entendimento e amor são necessários. Seu coração pode crescer e ficar tão grande como o cosmos; o crescimento de seu coração é infinito. Se seu coração for como um grande rio, você pode receber qualquer quantidade de sujeira. Não irá te afetar e você poderá transformar a sujeira muito facilmente.
O Buda usou essa imagem. Se você puser um pouco de sujeira em um copo de água, então a água terá que ser jogada fora. As pessoas não poderão bebê-la. Mas se puser a mesma quantidade de sujeira em um grande rio, as pessoas continuarão a beber do rio, porque o rio é imenso. Durante a noite aquela sujeira será transformada dentro do coração do rio. Portanto se seu coração é um grande rio, você poderá receber qualquer quantidade de injustiça e ainda viver com felicidade. Pode transformar durante a noite as injustiças infligidas a você. Se você ainda sofrer, é porque seu coração não é ainda grande o suficiente. Este é o ensinamento da paciência, tolerância e inclusividade no budismo. Você não pratica para suprimir seu sofrimento, você pratica para que seu coração cresça e fique tão grande quanto o rio.
Uma vez o Buda disse a seus discípulos: “Há pessoas entre nós que não tem a mesma capacidade que nós. Eles não têm a capacidade de agir corretamente e falar corretamente. Mas se olharmos profundamente, veremos nos seus corações que existem boas sementes, e, portanto temos que tratar estas pessoas de tal modo que essas boas sementes não se percam”. Entre nós há aqueles que pensamos não ter a capacidade de praticar tão bem como fazemos. Mas deveríamos saber que essas pessoas também tem boas sementes e temos que cultivar essas boas sementes de tal modo ele elas tenham a chance de serem regadas e brotar.
O Buda via todos os seus discípulos como filhos e eu penso o mesmo a respeito dos meus. Qualquer um dos meus alunos é meu filho que eu dei a luz. No meu coração eu sinto calma, sinto luz e felicidade, mesmo que esse filho possa ainda ter um problema. Você pode usar esse método também. Se há uma pessoa na Sangha que te causa problema, não perca as esperanças. Lembre: “Meu professor deu luz a este filho. Como posso praticar de forma a ver esta pessoa como irmão? Então meu coração se sentirá mais calmo e eu serei capaz de aceitá-lo. Esta pessoa é ainda meu irmão, queira ou não.” Este sentimento e estas palavras podem ajudar a dissolver a irritação que você tem com esta pessoa.
Se temos harmonia na Sangha, podemos dar confiança a muitas pessoas. Não precisamos ser perfeitos. Eu mesmo não sou perfeito e você não precisa ser perfeito também. Mas se do seu próprio modo você pode expressar sua harmonia na Sangha, este é seu presente.
(Traduzido do livro “Friends on the path” – Thich Nhat Hanh por Leonardo Dobbin)
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